Introdução
O Bernese Mountain Dog, conhecido no Brasil como Boiadeiro Suíço, é uma das raças mais carismáticas e ao mesmo tempo robustas que chegam às casas brasileiras. Originário dos Alpes suíços, esse gigante de pelagem tricolor foi criado para trabalhos de pastoreio, transporte de carga e até como cão de guarda nas fazendas de altitude. Hoje, ele conquista corações em ambientes urbanos e rurais, graças ao seu temperamento dócil, aparência imponente e lealdade incondicional.
Para quem pensa em adotar um Bernese, é fundamental compreender que, apesar de parecer um “cão de pelúcia”, ele exige cuidados específicos que vão desde a manutenção da pelagem até a atenção a doenças genéticas comuns na raça. Este artigo foi pensado para tutores brasileiros que desejam oferecer a melhor qualidade de vida ao seu companheiro, abordando características físicas e comportamentais, cuidados essenciais, alimentação, saúde, treinamento e dicas práticas do dia‑a‑dia.
Ao longo das próximas seções, você encontrará informações baseadas em evidências veterinárias, recomendações de especialistas em comportamento canino e orientações práticas que facilitam a convivência harmoniosa entre humano e animal. Nosso objetivo é proporcionar um guia completo, empático e acessível, que ajude a transformar a relação tutor‑cão em uma parceria saudável, feliz e duradoura.
Dica rápida: antes de decidir, reserve um tempo para visitar criadores responsáveis, conhecer filhotes e conversar com veterinários que já atendem Berneses em sua região. Essa primeira etapa pode evitar surpresas e garantir que a escolha esteja alinhada ao seu estilo de vida.
Características Principais
Aparência física
O Bernese Mountain Dog possui uma estrutura corpórea grande e musculosa, com machos pesando entre 40 kg e 55 kg e fêmeas entre 35 kg e 45 kg. Sua altura varia de 63 cm a 71 cm na cernelha. A pelagem é longa, densa e impermeável, apresentando o clássico padrão tricolor: base preta, manchas brancas e áreas castanhas (geralmente nas pernas, peito e ao redor dos olhos). Essa combinação não só confere um visual majestoso, mas também protege o animal das baixas temperaturas — característica herdada de sua origem alpina.
Temperamento
Os Berneses são amplamente reconhecidos por sua natureza afetuosa e inteligente. Eles gostam de estar perto da família, demonstrando grande apego a crianças e adultos. Essa raça costuma ser descrita como “gentil gigante”, pois combina força física com uma disposição calma e paciente. Eles são socialmente adaptáveis, aceitando bem a presença de outros cães quando socializados desde filhotes. Contudo, seu instinto de guarda pode gerar um leve alerta em relação a estranhos, o que, se bem direcionado, transforma o animal em um excelente companheiro de segurança.
Energia e necessidade de exercício
Embora sejam capazes de correr longas distâncias, os Berneses têm um nível de energia moderado. Eles apreciam caminhadas diárias, brincadeiras ao ar livre e, especialmente, atividades que estimulem o olfato, como farejar trilhas ou buscar objetos. Em ambientes urbanos, duas caminhadas de 30‑40 minutos, combinadas com sessões curtas de brincadeiras interativas, são suficientes para manter o bem‑estar físico e mental.
Inteligência e capacidade de aprendizado
A inteligência do Bernese está entre as médias‑altas das raças de grande porte. Eles aprendem rapidamente comandos básicos e respondem bem a reforço positivo, mas podem apresentar certa teimosia se o treinamento não for consistente. Por isso, a paciência e a constância são chaves para um aprendizado eficaz.
Dica prática: utilize brinquedos de puzzle e jogos de olfato para estimular a mente do seu Bernese, reduzindo comportamentos indesejados como mastigação excessiva ou latidos compulsivos.
Cuidados Essenciais
Higiene da pelagem
Devido à pelagem longa e densa, o Bernese exige escovação diária ou, no mínimo, três vezes por semana. Essa prática evita a formação de nós, reduz a quantidade de pelos soltos e distribui os óleos naturais que mantêm a pele saudável. Use uma escova de cerdas macias ou um pente de metal com dentes largos. Nos períodos de troca de pelagem (geralmente entre março e maio), a escovação se torna ainda mais importante para remover o subpelo solto.
Banho e cuidados com a pele
Banhos devem ser realizados a cada 2–3 meses, ou quando o cão se suje excessivamente. Escolha shampoos específicos para cães de pelagem longa e, preferencialmente, com ingredientes naturais (como aloe vera ou aveia) que evitam irritações. Após o banho, seque bem a pelagem com toalhas absorventes e, se necessário, use um secador em temperatura baixa para evitar ressecamento da pele.
Manutenção das unhas e dentes
Unhas devem ser aparadas a cada 4–6 semanas para evitar que cresçam demais e causem desconforto ao caminhar. O corte deve ser feito com cuidado, evitando o “quick” (zona vascular). Quanto à higiene dental, escove os dentes do seu Bernese pelo menos duas vezes por semana com pasta própria para cães, e ofereça brinquedos mastigáveis que ajudem a limpar a superfície dos dentes.
Exercício e espaço vital
Como mencionado, o Bernese precisa de exercício regular, mas também de espaço para se movimentar livremente. Em casas sem quintal, considere visitas a parques caninos ou áreas verdes onde ele possa correr sem restrições. Sempre mantenha a coleira e a guia em boas condições, e use peitoral ao invés de coleira de pescoço para reduzir pressão no pescoço, especialmente em raças de grande porte.
Proteção contra calor
Apesar de sua origem alpina, o Bernese pode sofrer com o calor intenso. Em dias acima de 30 °C, limite as caminhadas ao final da manhã ou início da noite e ofereça água fresca constantemente. Evite exercícios intensos nas horas de pico de calor e, se possível, mantenha o animal em ambientes ventilados ou com ar‑condicionado.
Dica prática: coloque um tapete frio ou toalha úmida no chão da casa durante o verão; isso ajuda a reduzir a temperatura corporal do cão enquanto ele descansa.
Alimentação e Nutrição
Necessidades calóricas
Um Bernese adulto de peso médio (≈ 45 kg) necessita de aproximadamente 2 500 a 3 200 kcal por dia, dependendo do nível de atividade, idade e metabolismo. Filhotes apresentam necessidades energéticas maiores, podendo chegar a 3 500–4 000 kcal/dia nos primeiros meses, pois o crescimento é rápido.
Formulação da dieta
A dieta ideal deve ser balanceada, contendo:
- Proteínas de alta qualidade (20 %–30 % da dieta) – carnes magras, peixe ou ovos.
- Gorduras (10 %–15 %) – fontes como óleo de peixe, óleo de linhaça, que fornecem ácidos graxos essenciais (EPA/DHA) importantes para a saúde da pelagem e do cérebro.
- Carboidratos complexos – arroz integral, batata‑doce ou aveia, que fornecem energia de liberação lenta.
- Fibras – ajudam na digestão e na saúde intestinal.
Suplementação e micronutrientes
- Ômega‑3: importante para a pelagem brilhante e anti‑inflamatório.
- Glucosamina e condroitina: podem ser benéficas para a saúde das articulações, sobretudo em raças predispostas a displasia coxofemoral.
- Vitamina E e selênio: antioxidantes que ajudam a prevenir o envelhecimento precoce da pele.
Alimentação de filhotes
Filhotes de Bernese devem receber pelo menos três refeições diárias até os seis meses de idade, depois reduzindo para duas. Ração específica para filhotes de raças grandes contém níveis adequados de cálcio e fósforo, essenciais para o desenvolvimento ósseo. Evite alimentos caseiros sem balanceamento adequado, pois a deficiência ou excesso de minerais pode levar a problemas ortopédicos.
Controle de peso e obesidade
O Bernese tem tendência a ganhar peso facilmente, principalmente se alimentado com excesso de petiscos ou porções inadequadas. Mantenha o peso ideal entre 30 kg e 45 kg, dependendo da estrutura corporal. Use a regra da “cintura visível” – ao observar o animal de lado, a cintura deve ser perceptível. Se notar aumento de gordura abdominal, ajuste a quantidade de ração e aumente a atividade física.
Dica prática: utilize um medidor de ração (colher ou copo medidor) para garantir a dose correta, e registre a quantidade diária em um caderno ou aplicativo de controle de alimentação.
Saúde e Prevenção
Doenças genéticas mais comuns
- Displasia Coxofemoral (DC) – Problema ortopédico que afeta a articulação do quadril, comum em raças de grande porte. Sintomas incluem claudicação, dor ao subir escadas ou levantar após descanso.
- Torticollis (torção de pescoço) – Embora raro, pode ocorrer devido a predisposição genética.
- Câncer de mastócitos – Os Berneses têm predisposição a tumores de mastócitos cutâneos; o diagnóstico precoce aumenta as chances de tratamento bem‑sucedido.
Vacinação e vermifugação
- Vacinas essenciais: V8 (cinomose, parvovirose, hepatite infecciosa, leptospirose) + V10 (inclui adenovírus tipo 2). A primeira dose aos 6–8 semanas de vida, reforço a cada 3–4 semanas até 16 semanas, e revacinação anual.
- Vermifugação: protocolo interno (cólicas) a cada 3 meses e externo (pulgas, carrapatos) mensalmente, usando produtos recomendados pelo veterinário.
Exames preventivos
- Radiografia de quadris: recomendada entre 12 e 18 meses para detectar displasia precoce.
- Hemograma e bioquímica: anualmente, para avaliar função hepática, renal e níveis de glicose.
- Ultrassonografia abdominal: útil para detectar tumores ou alterações em órgãos internos.
Cuidados com a pelagem e pele
A pele do Bernese pode ser suscetível a dermatites alérgicas e infecções fúngicas devido à umidade acumulada na pelagem. Mantenha as áreas dobradas (sobrancelhas, axilas) secas e limpas. Use shampoos medicinais sob orientação veterinária caso apareçam irritações.
Controle de parasitas internos e externos
- Pulgas: preferir produtos de longa ação (spot‑on ou coleira) que evitam o ciclo de vida completa do parasita.
- Carrapatas: atenção especial em áreas rurais; removê‑las com pinça própria, evitando esmagamento.
Estratégias de prevenção de obesidade
- Alimentação controlada: evitar restos de comida e petiscos em excesso.
- Exercício regular: caminhadas diárias e estímulos mentais.
- Monitoramento de peso: pesagens mensais nos primeiros anos de vida.
Treinamento e Comportamento
Metodologias de treinamento
O Bernese responde melhor a reforço positivo, como petiscos, elogios verbais e brincadeiras. Evite métodos punitivos, pois podem gerar ansiedade e medo, prejudicando a relação tutor‑cão. Utilizar clicker training (aparelho de clique) pode ser útil para marcar comportamentos corretos de forma clara e consistente.
Socialização precoce
A socialização deve começar entre 3 e 12 semanas de idade, expondo o filhote a diferentes ambientes, sons, pessoas e outros animais. Isso reduz a probabilidade de medo excessivo ou agressividade no futuro. Inscrições em grupos de socialização ou aulas de obediência para filhotes são ótimas oportunidades.
Obediência básica
- Comando “sentar”: ensine usando um petisco como guia, movendo-o acima da cabeça do cão.
- Comando “deitar”: a partir do “sentar”, guie o petisco em direção ao chão.
- Comando “vir”: use a palavra “vem” acompanhada de um gesto de mão, recompensando imediatamente ao chegar.
Controle de latidos e comportamentos indesejados
- Latidos excessivos: identificar a causa (tédio, ansiedade, presença de estranhos). Se for tédio, aumente estímulos mentais; se ansiedade, trabalhe a dessensibilização progressiva.
- Mastigação destrutiva: ofereça brinquedos resistentes (como Kongs recheados) e aumente a quantidade de exercícios físicos.
Treinamento avançado (agilidade e trabalho)
Embora não seja uma raça tradicional de agilidade, o Bernese pode se beneficiar de exercícios de “trabalho leve”, como busca de objetos, obstáculos simples e jogos de faro. Essas atividades aumentam a confiança e fortalecem a musculatura, ajudando na prevenção de lesões ortopédicas.
Dicas de manejo de energia
- Rotina estruturada: estabeleça horários fixos para alimentação, caminhadas e brincadeiras.
- Enriquecimento ambiental: coloque brinquedos interativos, esconda petiscos em tapetes de busca ou use caixas de papelão para estimular curiosidade.
Dicas Práticas para Tutores
- Planeje o espaço da casa – Reserve um cantinho com cama ortopédica e tapete macio para que o Bernese possa descansar sem escorregar.
- Calendário de cuidados – Crie uma planilha (digital ou física) com datas de vacinação, exames, banho, escovação e pesagem.
- Controle de clima – No verão, mantenha o ambiente ventilado; no inverno, garanta que o local seja aquecido, mas evite superaquecimento.
- Alimentação saudável – Use medidores de ração, ofereça água fresca a todo momento e evite alimentos “humanizados” (como chocolate ou cebola), que são tóxicos para cães.
- Enriquecimento mental – Invista em brinquedos de puzzle, que exigem que o cão descubra como obter o petisco; isso reduz o estresse e a ansiedade.
- Exercício regular – Caminhadas matinais de 30 minutos e brincadeiras à tarde mantêm o animal em forma; ajuste a intensidade conforme a idade e condição física.
- Visitas ao veterinário – Agende consultas de rotina a cada 6 meses nos primeiros 2 anos de vida, depois anualmente.
- Cuidados com a pelagem – Escove antes de cada banho, principalmente nas áreas onde o subpelo se acumula (sobrancelhas, axilas).
- Prevenção de parasitas – Use coleiras anti‑pulgas de ação prolongada e verifique a presença de carrapatos após passeios em áreas verdes.
- Socialização contínua – Mesmo adultos devem conhecer novos ambientes e pessoas; leve o cão a parques, lojas pet‑friendly e encontros com amigos que tenham cães.
Rotina de manhã e noite
| Horário |
| --------- |
| ------------ |
| 07:00 |
| Verificar temperatura do chão |
| 07:30 |
| Água fresca sempre disponível |
| 08:00 |
| 5 minutos, foco nas áreas dobradas |
| 12:00 |
| Evitar alimentos gordurosos |
| 12:30 |
| Enriquecimento mental |
| 18:00 |
| Reavaliar porção se houver ganho de peso |
| 19:00 |
| Ajustar intensidade ao clima |
| 20:00 |